terça-feira, 8 de abril de 2014

Plano de trabalho da orientação pedagógica

Por: Iara Moura Juliano

Na estrutura de trabalho pedagógico interposto nos planos e na intencionalidade de uma proposta para orientação pedagógica neste ano de 2013 nos indagamos sobre nossas crianças:
Que tempo é este que vivemos? Que criança é esta que nos chama? Que sorriso é este que nos interpela? Que choro é este que me faz acolhe-la e ao mesmo tempo me indigna? Que brincadeira é essa que me faz sorrir, estranhar e me divertir? Que pergunta é essa que me desconcerta? Que criança é essa que parece um adulto em suas mil faces? Que criança é essa que faz birra? Que não consegue brincar diante de um brinquedo? Que chora por querer seus familiares? Que abraço gostoso! Que belo sorriso! Que palavra certa expressada no vazio e na grandeza de um momento? Que soninho bom!, Que choro sem consolo! Que felicidade numa descoberta! Que brincadeira gostosa! Que autonomia! Que dependência! Que medo, que curiosidade .....
Propomos descobrir o que é ser criança, a importância de reconhecermos no contexto escolar os saberes que as crianças têm sobre o mundo e até sobre elas e nós adultos. Saberes estes constituídos socialmente e que dão às crianças identidade cultural e que muitas vezes nós adultos não conseguimos acolhe-las, atingi-las por não estarem em pauta no holl de reflexões dentro do contexto escolar e da primeira infância.
Segundo Corsaro após infinitas observações nas escolas de educação infantil, pode perceber que as crianças têm, sua própria maneira de interagir com os outros e com o mundo à sua volta. Percebeu que as crianças, mesmo pequenas, não vivem só de imitar os adultos. Elas estabelecem regras, desafiam os maiores e procuram formas alternativas de serem aceitas.
Entendemos que nossas concepções de infância atravessam nossas trajetórias de vida e profissão. Debater nossas experiências e culturas possibilita compreender como nosso espaço profissional é perpassado pelos espaços de vida, bem como construir práticas pedagógicas de enfrentamento das ideologias que nos moldaram como indivíduos e assim entender como as questões de classe, gênero e raça deixaram marcas sobre nossas formas de pensar e agir (Giroux, 1997, p. 40).
Temos a intenção em trazer a tona também a discussão sobre a necessidade de transformar os espaços da escola em um lugar onde a criança possa viver sua infância de acordo com uma gestão temporal. Um espaço físico que possa contemplar um ambiente intencional. A gestão e o cuidado do tempo é tema importante para ser discutido nas propostas da organização de vida cotidiana na educação infantil. O tempo é uma categoria política e diz respeito à vida das crianças, pais, educadores, enfim, todos os envolvidos na educação infantil, pois o mesmo articula a vida, tecendo fios estabelecendo limites e amarrando e estruturando relações, saberes e conhecimentos. É nesse tempo que temos a possibilidade da dimensão da durabilidade, da continuidade e da construção dos sentidos da vida. Para tanto devemos também refletir como estamos vivendo o tempo profissional em que exercemos a docência, a função de cuidar e educar, ensinando, orientado e mediando a criança a vivê-lo.
O tempo em que nos formamos para a docência certamente percorreu determinada ideologia em que nos dias atuais não cabe. No passado a criança era vista sob o paradigma do cuidado, por vezes numa concepção higienista, representava um adulto em miniatura sem voz e vez, onde a fantasia não tinha espaço no cotidiano, apenas no brincar. Hoje a fantasia infantil é o foco, estudos da sociologia colocam a criança como ser pensante, brincante, como parte do contexto social, um ser para além dos direitos de voz e vez no mundo. Na pós-modernidade o espaço de ser criança é interagindo e sentindo a realidade por si mesma, atravessando culturas estabelecidas com seus pares, com os adultos e com o mundo. Por isso devemos trazer a tona práticas pedagógicas de enfrentamento das ideologias que concebem a criança como ser passivo, como objeto de marketing, como página em branco a ser escrita pelo adulto e qualquer outra coisa que lhe reduz a possibilidade de ser mais.
O conceito de infância é de suma importância para que consigamos discutir a ação pedagógica com todos os atores educativos da escola, assim como o papel da família, refletindo o que é ser coletivo na ed. Infantil, o que é uma rotina, a importância do brincar, das atividades de língua materna, dos tempos e espaços, do planejar, do cuidar e educar, do observar, avaliar e documentar.


Perspectiva de Trabalho da Orientação
Para ser grande, ser inteiro, nada teu exagera ou exclui;
ser todo em cada coisa;
põe quanto és no mínimo que fazes;
assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.”
Fernando Pessoa

Permitir ao grupo de trabalho o respeito à individualidade, a partilha, aceitar o outro como parte do todo, onde a participação valoriza a oportunidade de manifestação no grupo e para o grupo nos diferentes momentos formativos de que a dispõe a unidade educacional, promover a união de forças com o outro para avançar.
Ouvir o outro deve ser uma prática constante em que os fazeres ocorrem no coletivo através do diálogo, nos saberes a serem compartilhados, dando oportunidades para que o grupo pense e reflita as ações do cotidiano de forma a facilitar o alcance dos objetivos, das metas e ações comuns.
Promover sempre a reflexão para dentro da escola, com vistas à participação e com apropriação daquilo que pretende ou do que é feito. Somos atores e responsáveis por tudo que realizamos.
Desenvolver com o grupo de professores e monitores, acordos coletivos em prol do bem da escola, onde todos devem atender o decidido coletivamente após discussão e participação, com vistas ao trabalho no cotidiano.
Valorizar a igualdade de direitos, onde o protagonista circula pelo grupo dando destaque ao valor profissional para que se tenha a busca de soluções, visando atender as necessidades pedagógicas dos professores e monitores, com vistas aos objetivos do P.P, de maneira formativa, tanto individual quanto coletivamente.
Divulgar junto com todos os profissionais para a comunidade escolar (pais e/ou responsáveis) as atividades pedagógicas desenvolvidas bem como acompanhar o desempenho das diferentes linguagens infantis de modo a permitir o envolvimento necessário, do profissional e da família, importante para a formação e desenvolvimento integral da criança, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacional e Políticas Educacionais da SME.
Planejar junto com os profissionais, situações pertinentes e específicas como estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão, realizar reuniões com a equipe gestora (semanal ou quinzenalmente) para trocas e reorganização de ações.
Orientar e acompanhar o desempenho das crianças, coordenar ações para aquisição de materiais pedagógicos, incentivar e planejar junto com a equipe de profissionais da unidade, o desenvolvimento de atividades que envolvam tecnologias/ mídias/ ações e incentivo à leitura, no ensino e aprendizagem das crianças e dos adultos envolvidos na escola.
Sistematizar reuniões de TDC e GEM e Reuniões pedagógicas, escriturando-as em livro específico, para ciência de todos os participantes e interessados.
Participar dos assessoramentos semanais, cursos, eventos e palestras promovidos pela SME ou outras instituições e repassá-los ao grupo favorecendo o crescimento pedagógico.
Os referenciais bibliográficos utilizados para a construção do P.P serão apoio para estruturarmos junto aos profissionais da escola as reuniões pedagógicas.
Há também o objetivo em atender as especificidades dos professores em suas demandas profissionais cotidianas em que a orientação pedagógica desenvolverá um plano de trabalho específico para tal necessidade. Diante disso o contato com o professor em sala, ajudando-o a refletir ações e propondo intervenções quando necessitar acarretará em ampliação do trabalho pedagógico do professor.
Nos TDCs, combinamos que ampliaremos os momentos de trocas de experiências e vivências dos professores, planejaremos mensalmente as atividades coletivas e proporcionaremos estudos específicos e pertinentes sobre as diretrizes curriculares de Ed. Infantil pública do município de Campinas.
Quanto ao GEM se faz necessário planejar de acordo com as necessidades do grupo, com atendimento semanal às quartas feiras pedagógica e promover a opção de formação externa junto à cursos oferecidos pela SME e outros segmentos educacionais que atendam às necessidades da unidade escolar e do profissional em questão.
O trabalho do orientador pedagógico durante o ano letivo desenvolverá com apoio aos professores em sala de aula, atendimento pré agendado a pais juntamente com professores com vistas a situações pedagógicas específicas. Ao longo dos trimestres a atenção e o olhar do orientador pedagógico envolverá os objetivos da educação infantil, os eixos trabalhados na unidade escolar, a integração e a partilha entre os professores da unidade quanto ao desenvolvimento de ações pedagógicas com as crianças , o trabalho com o brincar, o letramento, o trabalho em espaços diversificados, atividades coletivas, estudo de casos e situações de avanço pedagógico como por exemplo o trabalho com o computador e uso de mídias, a arte e suas diferentes expressões, a integração da família/escola, a valorização da educação infantil em seu contexto mais amplo, Coordenação TDC e Formação Continuada, GEM, RPAI entre outros.
No que se refere a jornada de trabalho do orientador diretamente com os professores / monitores neste ano temos 11 profissionais no Comecinho e 17 no Pezinhos , o que representa uma demanda intensa de trabalho, em que a semana passa a ser curta frente ao planejamento apresentado. Neste ano a CEI Pezinhos ampliou seu atendimento no agrupamento II parcial com duas salas, duas salas com semi estendido e duas integrais( uma de AGI e outra de AGII) portanto as necessidades de apoio pedagógico tornam-se mais intensivas e imediatas frente a parte pedagógica e atendimento específico a pais. Percebemos a entrada de crianças novas que não freqüentavam a escola período integral que tem colocado nossas atenções pedagógicas desde o acolhimento até a conscientização familiar do papel da educação infantil no contexto da vida da criança.


Oração ao Tempo
Maria Gadú
És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo



Atendimento semanal subsequente

SEGUNDA
TERÇA
QUARTA
QUINTA
SEXTA
Manhã
Assessoramento
CEI Comecinho de Vida
CEI Pezinhos Descalços
CEI Pezinhos Descalços
CEI Comecinho de Vida
NAED
Atend. Pais
Atend. Profa Rita/ Danuze/TDC
Atend. Profa Lindsey/ Adriana G. e monitoras
Reunião Gestão
Atend. Pais
GEM
Atend. Profa Luciana/ Adriana M. e monitoras
Org. Material Pedag.
TDC
Atend. Pais
Atend. Profa Luciana/ Mª Inês/ Ana Paula
Tarde
CEI Comecinho de Vida



CEI Pezinhos Descalços
CEI Pezinhos Descalços
CEI Comecinho de Vida
Reunião Gestão
Atend. Profa Iracy/ Lucilene
Org. pauta TDC
Reunião Gestão
GEM

Atend. Roberta/Elaine e monitoras
Atend. Profa Tatiana/Mª Elisa/ Marisa



Bibliografia:
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL : Um processo contínuo de reflexão e ação : Prefeitura Municipal de Campinas, Secretaria Municipal de Educação, Departamento Pedagógico / Organização : Miriam Benedita de Castro Camargo / Coordenação Pedagógico: Heliton Leite de Godoy. - Campinas, SP, 2013.
Referencial Curricular nacional para a educação infantil/ ministério da educação e do Desporto, secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,1998, vol1.
Por uma cultura da infância ; metodologia de pesquisa com crianças/ Ana Lúcia Goulart de Faria, Zeila de Brito Fabri Demartini, Patrícia Dias Prado, (orgs.).-Campinas,SP: Autores Associados,2002.-( coleção educação contemporânea)
O tempo na Educação infantil: Perspetivas de estudo de casos/ Ana Bondilioli (org):São Paulo: Cortez,2004
A entrada da criança na escola e o período de adaptação: Cristina helena G.Sartori.—Campinas, SP: Editora Alínea,2001
Didática do ensino da Arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte: Miriam Celeste Martins, Gisa Picosque, M Terezinha Telles Guerra. –São Paulo: FTD,1998
Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas/4.ed/ texto de Jorge Larossa, tradução de Alfredo Veiga-Neto,- Belo Horizonte;Autêntica,2001.
Avaliação na escola 1:Elvira Souza Lima- São Paulo: Editora Sobradinho107, 2002.
A criança pequena e suas linguagens: ______________-São Paulo: Editora Sobradinho107,2003
As relações interpessoais na formação de Professores: Laurinda Ramalho De Almeida; Vera Maria Nigro De Souza Placo(orgs)- São Paulo,Edições Loyola,2002
Brinquedoteca: um mergulho no brincar: Nilse Helena Silva Cunha.- São Paulo: Maltese, 1994
Gilles Deleuze, Guattari,F.MIL PLATÔS,1987, Continuum London New York.
Girox Henry . Placeres Inquietantes – Aprendiendo la Cultura Popular,Barcelona, Paidós, 1997)
GIROUX, Henry. Os Professores como Intelectuais – Rumo a uma Pedagogia Crítica da Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
CORSARO, W. A Sociologia da Infância, 2ª edição, Artmed.


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